quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Obrigação do Horizonte II ... vista inevitável


Exposição do PRÊMIO SECULT DE ARTES VISUAIS

Realização: Governo do Estado do Pará por meio da Secretaria de Estado de Cultura, do Sistema Integrado de Museus e Memoriais e do Museu Casa das Onze Janelas

Serviço:
Obrigação do Horizonte II ... vista inevitável
artista: Bruno Vieira
Abertura: 04 de julho de 2010 às 19:30h
Visitação: 05 de agosto a 10 de setembro de 2010
Horários: terça a domingo – 10h às 16h I feriados – 9h às 13h
Local: Laboratório das Artes - Museu Casa das Onze Janelas –
Praça Frei Caetano Brandão, s/n - Cidade Velha - Belém – PA
Fone: (91) 4009-8825/8823

Segmento: a exposição reúne um conjunto de persianas impressas com fotografias de paisagens

O ARTISTA:

Bruno Vieira, 1976. Vive e trabalha no Recife, onde nasceu. É licenciado em Ciências Sociais, Universidade Federal de Pernambuco (Ufpe, 1999), onde concluiu o curso de Educação Artística. Seus trabalhos incluem pintura, vídeo, fotografia, instalações e ações urbanas. Recebeu várias premiações. Em 2009, Prêmio Secult de Artes Visuais, Museu Casa da Onze Janelas, Belém, PA, em 2006, ganhou destaque especial na Revista Digital do site da Bolsa Iberê Camargo; 3º lugar na Arte Pará, Fundação Rômulo Maiorana, Belém; Menção Honrosa no 5º Salão de Artes Visuais, MAC de Jataí, Goiás. Em 2005, recebeu o Prêmio Projéteis Funarte de Arte Contemporânea, Funarte, Rio de Janeiro. Em 2004, ganhou o 2º lugar na Mostra Competitiva do Cinema Digital, Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), Recife e foi selecionado como um dos três finalistas na Bolsa de artes visuais Kunstlerhaus Buchsenhausen Bursary-Unesco-Aschberg (Innsbruck, Austria). Em 2003, recebeu a Bolsa Pampulha, no 27o Salão Nacional de Belo Horizonte, MAP, Minas Gerais.

TEXTO DA EXPOSIÇÃO:

EM TORNO DA PAISAGEM
Renata Wilner - Profª Adjunta do Curso de Artes Plásticas do Departamento de Teoria da Arte e Expressão Artística do Centro de Artes Comunicação - Universidade Federal de Pernambuco

Ao se inserir no contexto contemporâneo, Bruno Vieira se utiliza dos mais novos meios tecnológicos de produção de imagens e de comunicação, sem se furtar da sua relação com um sistema impregnado de convenções herdadas e memória. É assim que estrutura seu trabalho frente ao corpo histórico da arte: ironizando, sem perder a poesia, os discursos e rituais de legitimação, e as engrenagens de seu sistema.

As estratégias de apropriação que decorrem do gesto inaugural do ready-made duchampiano se seguiram através de uma negação da representação na arte. Ao invés de enveredar por essa trilha, Bruno Vieira se apropria da própria representação, e nos fluxos das metáforas, tece sua poiesis. Um dos fios condutores de seu trabalho é a paisagem, grande eixo temático da história da pintura, dos afrescos antigos ao século XIX.

Na série Vista inevitável (2008-2010), fotografias de paisagens naturais são impressas sobre persianas. Há uma referência irônica à janela renascentista, conceito do quadro perspectivado pelo qual se alicerça a paisagem. Fernando Cocchiarale assinala que “seu elemento estruturante tradicional, é no caso, a razão de seu desmanche”3 - pois a imagem some na horizontalidade das barras da persiana.

Ao apropriar-se da temática da paisagem, Vieira desestabiliza o mundo cartesianamente ordenado, desconstruindo suas coordenadas: o eixo vertical desaba; o conforto das verdades ilusórias é erodido pela impossibilidade de um espaço perspectivado, euclidiano, imóvel, da herança renascentista, face à fugacidade do tempo e à espacialidade aberta, dispersa e expansiva das redes virtuais na contemporaneidade.

Essas são algumas questões dos trabalhos da série Vista Inevitável, 2008 /2010, fotografias aplicadas sobre persianas produzidas para a segunda edição da exposição Obrigação do Horizonte II ... vista inevitável, em exibição no Museu Casa das Onze Janelas. Obrigação do Horizonte, título inspirado no poema Horizonte de Fernando Pessoa que remete a uma tradição e a uma genealogia que os próprios trabalhos celebram, mas que também ajudam a transformar. ( ) ... conforme nos informa Bruno Vieira.

Horizonte - de Fernando Pessoa

O mar anterior a nós, teus medos
Tinham coral e praias e arvoredos.
Desvendadas a noite e a cerração,
As tormentas passadas e o mistério,
Abria em flor o Longe, e o Sul sidério
'Splendia sobre as naus da iniciação.

Linha severa da longínqua costa
Quando a nau se aproxima ergue-se a encosta
Em árvores onde o Longe nada tinha;
Mais perto, abre-se a terra em sons e cores:
E, no desembarcar, há aves, flores,
Onde era só, de longe a abstrata linha

O sonho é ver as formas invisíveis
Da distância imprecisa, e, com sensíveis
Movimentos da esp'rança e da vontade,
Buscar na linha fria do horizonte
A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte
Os beijos merecidos da Verdade.

3- Fernando Cocchiarale

“Vista inevitável, trata da paisagem e seu principal alicerce na pintura ocidental: a linha do horizonte. Ambigüidade e ironia permeiam esse trabalho que consiste na impressão fotográfica de uma montanha sobre uma persiana azul. Ao graduá-la ou erguê-la (ainda que de modo imaginário), desfazemos a cena apresentada por meio das linhas formadas pelas barras que formam o suporte. Seu elemento estruturante tradicional é, no caso, a razão de seu desmanche”.

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