Título: RASTROS INSULARES - N 01°38’ - E 07°29’ - S 0°51’ -
WO 46°38’
Artistas:
Martine Bordenave e Philo Fournier
Local: Gratuliano Bibas (Espaço Cultural
Casa das Onze Janelas)
Data de
abertura: 05 de fevereiro, às 19h
Período
da exposição: 05 de fevereiro a 03 de
março de 2013.
O
funcionamento do Espaço Cultural Casa das Onze Janelas é de terça a sexta das
10h às 18h e nos sábados, domingos e feriados, das 10h às 14h.
“Se é de terra que fique na areia/O mar bravo só
respeita rei!”
Folia de Reis. Chico Anysio e Arnaud Rodrigues
Coordenadas geográficas aproximativas de dois
continentes, experiências distintas. Mesmo assim, complementares. África,
Brasil. Duas vilas de pescadores, vidas de complexidade aparentemente simples e
rude. Lugares pouco afeitos
às sentimentalidades. Contudo, repletos do humano. O que é, é. Dois artistas, três continentes. Europa. Existências em
transito, em choque e contaminações.
Nas mãos do pescador, o pescado. Suas redes, suas vitórias e
derrotas deixadas no fundo do mar. Lugar de intensa luta pela sobrevivência e
embate entre homem e natureza. A multiplicidade de interesses e capacidade
expressiva de Philo Fournier irradia destas profundezas sua vitalidade. Isolado
na escuridão da madrugada confabula com fenícios, romanos, portugueses,
polinésios, africanos e brasileiros. Tantos outros que lançaram suas redes
antes dele e, que por seu desalento, poderão brevemente não coletar mais as
dádivas de Netuno. O mundo em escala global modifica-se radicalmente. O orgulho
solitário do homem de mãos calejadas dá lugar à pesca de arrastão, indústria da
tonelada e do morticínio irracional das espécies marítimas. Deste conflito
surgem paisagens sonoras, e em vídeo, como tristes testemunhos de um tempo que
se esvai como na sutileza de um farfalhar de velas. É África. Imagens que
replicam a sujeira que abarrota as praias do litoral norte e se perguntam o
porquê? É Brasil. São como roupas abandonadas nas areias do esquecimento.
Martine Bordenave traz em si o silêncio montanhês. Sua
pintura de gestos largos e soltos são como a dança das mãos da bailarina que é.
Rostos não revelados, almas a revelar-se. Carga
anímica da negra África. De poucas palavras, possui olhos atentos às minúcias
do mundo. Uma raiz, um galho retorcido, conchas e detritos na praia. Plásticos,
bóias de isopor. Estes restos reveladores da ação negativa humana. Ação
predatória e de desequilíbrio que contrastam com a delicadeza de seus
apanhados. Ao reordená-los com objetos e instalações potencializa suas falas
demonstrando-nos o quanto necessitamos, todos nós, de zelo e atenção para com o
nosso derredor. Somos fruto e semente daquilo que plantamos.
Segundo a tradição japonesa de cerâmica Raku, uma peça delicada, ao partir-se, não deve ocultar seu
acidente. Ao ser restaurada deve evidenciar a queda, o ocorrido, suas
cicatrizes. Assim, fios de ouro aplicados em suas reentrâncias reafirmam que
viver é risco, é aprendizado, é atentar para os seus próprios erros. E, que
afinal, se não podemos retroceder ao passado, somos capazes de reconfigurar
nossos destinos. Às vezes, basta um simples gesto de cumprimento como tentativa
verdadeira de perceber o Outro.
Armando Queiroz
Vila dos pescadores, 2012
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