quinta-feira, 13 de maio de 2010
POLTRONA PARA ASSISTIR A MÁQUINA DO SOM!...TOQUE, MEUS DISCOS...
Identificado com os processos de gravura, Jocatos vem desenvolvendo projetos experimentais que expande a concepção desta tradicional categoria de arte. Com o domínio da gravura em metal e xilogravura propõe processos que envolvem outras linguagens e utiliza os mais variados suportes. Contemplado com o Prêmio Secult de Artes Visuais 2009/2010, o artista apresenta a instalação “Poltrona para Assistir a Máquina do Som!...Toque, meus discos...”, interliga o universo das artes visuais com o campo sonoro e da literatura, usando o disco de vinil e a lata de manteiga como suporte e revestimento dos objetos que compõem a instalação.
A obra traz como matriz uma idéia nascida durante uma visita ao ”Engenho de Cachaça Pacheco”, em Abaetetuba, quando Jocatos observou em cima de uma antiga máquina de costura, uma caixa de som de construção precária. O instante da idéia foi associado às experiências sonoras do Guamá, bairro em que mora, ao sentido crítico em relação ao circuito fonográfico, ao circuito de arte.
Os desdobramentos da instalação ganham novas dimensões com a referência ao romance “Confissões de Ralfo; uma autobiografia imaginária” (1975) de Sérgio Sant’Anna, escritor contemporâneo que, em determinado trecho do livro, ironiza a ditadura militar construindo um interrogatório permeado pelo humor e o nonsense. A poltrona, criada por Jocatos cercada pelos discos de vinil, assume este estado experimental entrecortado de sarcasmo, no qual um personagem imaginário sofre a tortura de um disparato interrogatório que o artista atualiza, deixando-nos refletir sobre uma contemporaneidade muitas vezes absurda, constituída por valores díspares que nos desestabilizam e podem gerar instáveis caminhos.
Marisa Mokarzel
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